segunda-feira, 15 de novembro de 2010

esqueci de lembrar
lembrei de esquecer
pedaço de fio
que faz ponte aos pensamentos
apressando o dia de amanhã
originam trânsitos no sono
criando manhã,
manhas e manias sonolentas.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

À ÁLVARO DE CAMPOS

Em certo ponto de sua “Saudação a Walt Whitman”
já não leio
Mas entro em estado de febril iluminação
salto pelo céu a dentro arremessando pedras na superfície das nuvens
como a encarar o rosto de Deus
Fico agora a pensar se poderei, eu também, com meus poemas,
provocar essa mesma reação e de ímpeto arrancar uma alma da mácula do mundo
Mas creio que não possuo todo o teu natural fulgor...

sexta-feira, 30 de julho de 2010

poemas metafísicos

 Fecha os olhos e veja
Escreva em mim teu desejo mais secreto.
Um bocado de palavras para um papel angustiado
Um instante de silêncio para um coração aflito.
ONTEM À NOITE
enquanto olhava firme a penumbra do quarto
caiu-me um breve temor sobre a alma
Serei aquele que não encontra um leito onde prostrar os ossos?
O bêbado que, alucinado, adormece sobre os trilhos?
Serei o velho que cai, dorido, e não colhe suas amoras
e não desenterra suas batatas e não faz chorar as ervas do campo?
Pensei pensei e pensei!
Mas então recordei-me do rio que em nada teme desaguar no mar...
Sou nu como um lobo e tenho o conforto da Nova Visão das eras
Nada preciso do que a Mãe, no seu ventre, não possa parir!
Saberei florir como a tarde!

terça-feira, 6 de julho de 2010

EU QUE ME VEJO

Eu que me vejo
Eu que me toco
Eu, sempre eu,
mas menos eu do que os outros são os outros
Louco, no interior de uma garrafa perambulando à beira-mar
A juventude plenamente santa
A eternidade divinamente intacta
e cheia de constância
Eu, um par de décadas de vida
Lenço de suor em tempestade de areia
Uma elegia entre altares e traves
de pura e negra maquinaria
Quando tudo é como estar no universo de uma praça de pombos
é como beijar o interior de meu próprio corpo
enquanto admiro toda a nudez nos espelhos.

domingo, 27 de junho de 2010

OBSERVO OS PRADOS E A SERRA AO LONGE

OBSERVO OS PRADOS E A SERRA AO LONGE
e a urbanidade tal qual uma trave no olho
Sou todo paz: Tudo é o que parece ser

Mas recordo que os sapos sumiram
no ventre das estações
pois agora meu olhar é das gaivotas,
os sapos certamente existem alhures

E toda minha paz é apenas um pensamento
que perde-se nos envidraçados olhos das gaivotas
que serão sempre gaivotas
e eu, cá na cidade, sempre gente.

sábado, 26 de junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

NÃO SEI DA VIDA DAS METÁFORAS MALHADAS

NÃO SEI DA VIDA DAS METÁFORAS MALHADAS
Sei apenas de como eu existo no mundo

Sou mais o barbudo enterrado no pântano da igreja
do que um cabide de terno flutuando em plataformas
de puro couro

Escrevo como quem tem rotas as veias
O resto é o fruto que a terra esconde.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Noite Que Segue

Noite vazia que esvazia tudo o que há dentro.
O céu tapa como um tapa a vergonha que não te esconde.
Estrelas te revelam.
Mistério que te envolve em cada dobra de curva.
Risadas ecoam em becos, construções abandonadas.
Como crianças que mendigam centavos.
Escravos da reputação, da boa reputação digo, que o dia ajuda a mostrar.
Um salário fixo não garante nada.
Que nada!
Loucos morrem de overdose nas esquinas.
Mulheres vendem seus corpos.
E sinaleiras apontam quem segue e quem para no caminho.

Petrillo Miranda

FOI TOCADA

Foi tocada
coitada
era uma bolha flutuante
toda cheia do ar
ressecado do dia

Mas foi tocada
e era sangue
e era esperma, afinal

Foi tocada
e é só isso

Era uma bolha
ou uma bailarina mesmo,
fujona eu sei que era!

Por que não havia de dormir
nos lábios da criança?

Mas enfim...
Foi tocada,
nada fora disso!